Lista abaixo identifica membros da Santa Sé que contribuíram com a impunidade de padres acusados de molestar crianças
1.) Cardeal Timothy Dolan, arcebispo de Nova York; norte-americano, 63.
Um dos eclesiásticos de maior exposição na mídia em função de seu cargo— “arcebispo da capital do mundo”, como já havia se referido ao posto de Nova York o papa João Paulo II —, Dolan convive com denúncias de vítimas de abuso sexual, violentadas por padres da arquidiocese de Milwaukee, no período em que o cardeal esteve no comando por lá. Atualmente, o caso está na Justiça dos Estados Unidos e os advogados das vítimas querem esclarecimentos sobre em que momento Dolan soube das denúncias. Alega-se que o cardeal retardou deliberadamente o andamento do caso, demorando para levá-lo a público, e, com isso, dificultando o trabalhado dos promotores encarregados.
2.) Cardeal Roger Mahony, ex-arcebispo de Los Angeles; norte-americano, 77.
Chefe da arquidiocese da “cidade dos Anjos”, o cardeal Mahony é fortemente acusado de encobertar inúmeros casos de pedofilia por padres abaixo da sua hierarquia. Estima-se que sejam mais de 500 vítimas de abusos sexuais cometidos por padres. Para lidar com a questão, o então arcebispo de Los Angeles trocou correspondências com o Vaticano, mais especificamente comunicando o então cardeal, e futuro papa Bento XVI, Joseph Ratzinger. Alguns dos documentos revelados incluem uma carta de Mahony a Ratzinger na qual ele reporta a conduta do padre Lynn R. Caffoe, responsável por iniciar “atos de masturbação e copulação” mais de cem vezes com um mesmo garoto. Há também o caso do padre Peter Garcia, que abusou sexualmente de mais de 20 meninos, incluindo um deles que foi amarrado e estuprado. Em vez de entregar Garcia à Justiça, Mahony enviou o padre para uma clínica de tratamento longe da Califórnia. Fluente em espanhol, o cardeal, no entanto, conta com o apoio maciço dos católicos latino-americanos, fator que o tem protegido da renúncia. Na mais latina das cidades dos EUA, Mahony sempre apoiou causas sociais de igualdade e de flexibilização da política imigratória.
3.) Cardeal William Levada, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé; norte-americano, 76.
Levada é o homem que Jospeh Ratzinger escolheu para substitui-lo em seu antigo posto, antes de ser eleito papa. À semelhança de Bento XVI, o cardeal também dá mais valor à reputação da Igreja do que ao bem-estar de suas vítimas. Quando era arcebispo de São Francisco, Levada lidou com um escândalo de pedofilia bem ao estilo “mate o mensageiro”: resolveu reprimir publicamente o padre-delator por ter ido à polícia entregar o, também padre, molestador.
4.) Cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano; italiano, 78.
Antes de tornar-se diplomata do Vaticano, Bertone era o número dois na Congregação para a Doutrina da Fé, comandada pelo futuro papa Ratzinger. Em 1998, foi acusado de pessoalmente retardar as investigações contra o padre Lawrence Murphy, denunciado por abusar de mais de 200 crianças com deficiência em uma escola para surdos em Milwaukee, nos EUA. Em uma visita ao Chile, Bertone fez o jogo do Vaticano e culpou os gays. “Muitos psicólogos e psiquiatras demonstraram que não há relações entre o celibato e a pedofilia. Mas muitos outros conseguiram demonstrar que existe uma ligação entre a homossexualidade e a pedofilia. Este é problema”, afirmou Bertone. O cardeal símbolo dos meandros políticos que permeiam a Santa Sé também teve envolvimento no escândalo do Vatileaks, no qual o mordomo do papa foi condenado por vazar correspondência do pontífice. Bertone é acusado de atacar o cardeal Carlo Maria Viganò, religioso favorável a reformas por mais transparência e austeridade no Vaticano.
5.) Cardeal Justin Rigali, ex-arcebispo da Filadélfia; norte-americano, 77.
O nível de abusos contra crianças cometidos na arquidiocese da Filadélfia, sob o comando do antecessor de Rigali, é espantoso. Em vez de serem denunciados à promotoria, os padres eram transferidos de paróquia em paróquia, sem que nada, a não ser vistas grossas, fosse feito. O norte-americano Justin Rigali é criticado por não ter agido para impedir a impunidade, permitindo que a arquidiocese da Filadélfia continuasse a abrigar padres pedófilos — 37 deles, no total. Em agosto de 2012, o Monsenhor William Lynn tornou-se o primeiro norte-americano clérigo da Igreja condenado por encobrir agressões sexuais cometidas por padres pedófilos. Assim como Rigali, Lynn também serviu à arquidiocese da Filadélfia; enquanto um está em Roma participando do conclave, o outro está atrás das grades.
6.) Cardeal Francisco Javier Errázuriz, ex-arcebispo de Santiago; chileno, 79.
O cardeal chileno representa mais um caso de complacência com as denúncias de abuso sexual cometido por padres sob o seu comando. Em 2003, Errázuriz foi informado de que o padre Fernando Karadima — líder de uma organização para jovens religiosos chamada Ação Católica — era alvo de denúncias. Entre aberturas e fechamentos das investigações, nada foi concluído ao longo desses dez anos. Recentemente, um total de oito homens vieram a público para se declarar vítimas do padre Karadima.
7.) Cardeal Francis George, arcebispo de Chicago; norte-americano, 76.
Em 2008, como parte de um acordo com vítimas de pedofilia na Igreja, trechos do depoimento do arcebispo de Chicago foram divulgados, revelando detalhes de intensas tentativas de acobertar os escândalos. No material, há evidências de que George por vezes se recusou a seguir as recomendações e remover os sacerdotes molestadores da arquidiocese de Chicago.
8.) Cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para Bispos; canadense, 68.
Um dos mais cotados para vencer o conclave, o teólogo canadense Marc Ouellet era um homem da confiança do papa Bento XVI, encontrava-se com ele semanalmente. Em Québec, província francófana do Canadá, causou polêmica ao criticar a “decadência” de uma sociedade na qual duas em cada três crianças nascem fora do matrimônio. Embora não seja acusado de acobertar padres pedófilos, Ouellet foi criticado por ter se recusado a encontrar-se com vítimas de um grave escândalo de violência sexual no Canadá. Cerca de 30 clérigos são acusados de cometer, entre os anos de 1944 e 1982, abusos contra crianças em uma escola para meninos com surdez.
9.) Cardeal Sean Brady, chefe da Igreja irlandesa; irlandês, 73.
No auge do escândalo de pedofilia na Irlanda, o vice-primeiro-ministro do país chegou a pedir publicamente a renúncia do arcebispo Sean Brady. A pressão aumentou após revelações sobre a sua participação para acobertar atos praticados pelo padre pedófilo Brendan Smyth. Um documentário da BBC mostrou que Brady teve acesso aos nomes e endereços das vítimas do padre, mas que nada fez para avisar as famílias. Muitas das crianças continuaram por anos a sofrer com os abusos. Em 1994, o padre Brandan Smyth foi preso e condenado por 74 casos de abuso sexual; morreu um mês depois de começar a cumprir a pena de 12 anos de cadeia.
10.) Cardeal Angelo Sodano, decano do Colégio de Cardeais; italiano, 85 anos (não participa do conclave)
Em um discurso inesperado no Domingo de Páscoa, em 2010, o italiano Angelo Sodano culpou as “pessoas com visões da família e da vida contrárias ao Evangelho” pelo escândalo de pedofilia na Igreja Católica. Sua intenção era eximir o bispos e o próprio papa de qualquer deslize moral — e penal — cometido por padres nas paróquias de sua jurisdição. “Não é culpa de Cristo se Judas o traiu. Não é culpa do bispo se um de seus padres está manchado com graves delitos”, declarou. Ex-secretário de Estado do Vaticano, Sodano tem 85 anos e, por isso, não participa do conclave, embora possa ser, teoricamente, escolhido como o novo papa.