Muitos acreditam que os Dez
Mandamentos surgiram quando Moisés os recebeu no monte Sinai, sendo até então
desconhecidos. Outros crêem que Jesus os substituiu por "dois novos"
mandamentos, e um terceiro engano afirma que eles foram destinados aos judeus e
não precisam ser obedecidos pelos gentios. Essas noções absurdas contrariam
fortemente os ensinos da Bíblia, e Deus aniquila pessoalmente a primeira ilusão
ao declarar:
"Então, disse o Senhor a Moisés: Eis que vos farei chover do céu
pão, e o povo sairá e colherá diariamente a porção para cada dia, para que Eu
ponha à prova se anda na Minha lei ou não.
Dar-se-á que, ao sexto dia, prepararão o que colherem; e será o dobro do
que colhem cada dia. (...) Seis dias o colhereis, mas o sétimo dia é o sábado;
nele, não haverá.
Ao sétimo dia, saíram alguns do povo para o colher, porém não o acharam.
Então, disse o Senhor a Moisés: 'Até quando recusareis
guardar os Meus mandamentos e as Minhas leis?'" (Êxodo capítulo 16)
Isso ocorreu no deserto de Sim, antes que os
descendentes de Abraão chegassem ao deserto de Sinai para receber os Dez
Mandamentos na sua forma escrita (em duas tábuas de pedra) após firmarem com o
Senhor o pacto de aliança (Êxodo 16:1; Êxodo 19:1-8). Agora surgi as
seguintes perguntas: Como poderia Deus pôr os israelitas à prova em relação ao
sábado do quarto mandamento se eles ainda iriam recebê-lo no monte Sinai? E por
que os reprovou questionando: "Até quando recusareis guardar os Meus
mandamentos e as Minhas leis?" (Êxodo 16:28).
O uso da locução adverbial "até
quando", que provém do hebraico "'anah"(a), e o uso dos
substantivos "mandamentos" e "leis", que são
respectivamente traduções do hebraico "mitsvah"(b) e "towrah"(c), demonstram que os
israelitas conheciam tanto a observância sabática quanto outras instruções
divinas, e vinham a muito tempo negligenciando-as. Deus jamais teria testado-os
naquela ocasião se eles não conhecessem os Seus preceitos, isso seria injusto.
Através de Abraão eles receberam as orientações que foram transmitidas desde a
época de Adão.
A Lei de Deus no Éden
Adão e Eva transgrediram no Éden os
princípios da lei de Deus quando cederam aos sofismas de Satanás e,
consequentemente, desprezaram a justiça que lhes foi ensinada. Nessa infeliz
atitude, eles escolheram seguir uma criatura e consideraram as palavras do Deus
Criador falsas; desonraram Aquele que lhes concedeu a vida; cobiçaram e
furtaram; sentenciaram a morte gerações, pois perderam o direito a vida eterna
e condenaram seus descendentes ao mesmo destino; e, se esses fatos ocorreram no
sétimo dia da semana, pode-se afirmar ainda que tais transgressões ofenderam o
Senhor no Seu santo sábado.
Antes desse fatídico dia, Adão e Eva
não conheciam os resultados do pecado: "eis que o homem se tornou como um
de nós conhecedor do bem e do mal" (Gênesis 3:22). Eles viviam em
perfeita harmonia com Deus e, dia-a-dia, aprendiam sobre o Seu amor sintetizado
em Sua lei. A respeito dessas transgressões a Bíblia revela:
"Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e
pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque
todos pecaram. Porque até ao regime da lei havia pecado no mundo, mas o pecado
não é levado em conta quando não há lei. Todo aquele que
pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei. [E] o
salário do pecado é a morte." (Romanos 5:12-13; I João 3:4; Romanos 6:23)
"Adão e Eva persuadiram-se de
que seria questão insignificante o comer do fruto proibido, e que tal ato não
poderiam resultar em terríveis consequências como as de que Deus os avisara.
Mas essa questão insignificante constituía uma transgressão da imutável e santa
lei divina, e separou o homem de Deus, abrindo os diques da morte e trazendo
sobre o mundo misérias indizíveis. Século após século tem subido da Terra um
contínuo grito de lamento, e toda criação geme aflita, em resultado da
desobediência do homem. O próprio Céu sentiu os efeitos da rebelião de Satanás
contra Deus. O Calvário aí está como um monumento do estupendo sacrifício exigido para expiar a
transgressão da lei divina. Não podemos considerar o pecado coisa
trivial."1
"Depois da desobediência, Adão e
Eva a princípio imaginaram-se ter obtido uma condição mais elevada de
existência. Mas logo o pensamento de seus pecados os encheram de terror.
Desapareceram o amor e a paz que haviam desfrutado, e em seu lugar
experimentavam uma intuição de pecado, um terror pelo futuro. A veste de luz
que os rodeara, desapareceu; e para suprir sua falta procuraram fazer para si
uma cobertura, pois enquanto estivessem nus, não podiam enfrentar o olhar de
Deus e dos santos anjos. Mas a nudez era mais do que física, era também uma
nudez de alma."2
Outros exemplos bíblico demonstram a
existência do Decálogo antes dele ser entregue no monte Sinai, tais como: o
assassinato de Abel (Gênesis 4:8); promiscuidade e idolatria de vários povos da antiguidade como de
Sodoma e Gomorra (Gênesis 18:20; Gênesis 19:4-5 cf Romanos 1:18-32); Abrão antes de se tornar Abraão mentiu a respeito de seu parentesco
com Sara (Gênesis 12:10-20); José resistiu ao pecado de adultério (Gênesis 39:7-23); enfim, esses
atos não poderiam ser classificados como pecaminosos se a lei de Deus não
existisse anteriormente para condená-los (I João 3:4; Romanos 4:15; Romanos 7:7).
A Lei sob ataque no Céu
Lúcifer quando cobiçou o trono de
Deus transgrediu o princípio do décimo mandamento e tal atitude levou-o
posteriormente a violar os demais preceitos da lei.3 E aquilo que
ele não conseguiu no Céu(d), tenta a todo
custo obter na Terra: adoração e domínio absoluto. Para isso ele utiliza o
mesmo artifício, tornar a lei desprezível; e entende perfeitamente que para
atingir este objetivo não há necessidade de proporcionar a transgressão de cada
um dos Dez Mandamentos:
"Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado
de todos. Porquanto, Aquele que disse: Não adulterarás também ordenou: Não
matarás. Ora, se não adulteras, porém matas, vens a ser transgressor da lei. Falai
de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados
pela lei da liberdade." (Tiago 2:10-12 cf I João 2:1-4)
As Escrituras não favorecem
ideologias contrárias a lei de Deus, agir contra ela é auxiliar Satanás em seus
propósitos. E eis os "motivos" que o conduz a combatê-la:
Deus é amor (I João 4:8), a base da lei é
o amor (Romanos 13:8-10; Mateus 22:37-40).
Deus é santo, justo e bom (Salmos 99:5; Marcos 10:18; Salmos 7:11), Sua lei é santa,
justa e boa (Romanos 7:12).
Deus é eterno (I Timóteo 1:17), Sua lei é eterna
(Lucas 16:17 cf Isaías 24:5-6).
Deus é imutável (Tiago 1:17 cf Malaquias 3:6), Sua lei é
imutável (Mateus 5:17-19).
Deus é a verdade (João 14:6; Salmos 31:5), Sua lei é a verdade (Salmos 119:142).
Alinhadas acima características
inerentes a Deus e atribuídas também a Sua lei, visto que: os seus mandamentos
descrevem o próprio caráter de Deus e revelam o amor e cuidado dEle pelo homem;
ela é a base de Seu governo e, por intermédio dela, haverá o devido julgamento
da humanidade(e). Não é de admirar que Satanás a
odeie e de todas as formas possíveis tente ocultá-la da mente do homem (Hebreus 8:10-12;Hebreus 10:16-17 cf Jeremias 31:33-34).
Fundamentos do Decálogo
"Amarás o
Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu
entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. Osegundo, semelhante a
este, é: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e
os Profetas." (Mateus 22:37-40)
Através de falsas interpretações
deste ensino, existe o esforço em substituir o Decálogo por esses dois
mandamentos citados por Jesus. Porém, sem dificuldade alguma, percebe-se a
leviandade nesta tentativa uma vez que os versos de Mateus 22:37-40 são na realidade
a resposta para a pergunta: "Mestre, qual é o grande mandamento na
Lei?"(f). Neste questionamento não se faz
qualquer alusão sobre substituir a lei e seus respectivos preceitos; tanto a
pergunta quanto a resposta estão envolvidas em destacar o mandamento de maior
importância.
Na expectativa de constranger Jesus,
os fariseus interrogaram-nO a respeito dos mandamentos contidos na lei mosaica
e esperavam que Ele indicasse algum que não satisfizesse a pergunta. Mas, se
decepcionaram ao receberem como resposta os dois mandamentos que retêm osprincípios bases de toda a
lei: amor a Deus e amor ao próximo. A lei mosaica em sua totalidade
esta alicerçada sobre estes fundamentos e Jesus simplesmente assinala o que já
era ensinado por ela: "Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu
coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. (...) amarás o teu próximo
como a ti mesmo." (Deuteronômio 6:5; Levítico 19:18). Ao contrário do que muitos imaginam, a resposta de Jesus não era algo
novo ou exclusivo do Novo Testamento, e João chama atenção para isso ao dizer:
"(...) peço-te, não como se escrevesse mandamento novo, senão o que
tivemos desde o princípio: que nos amemos uns aos outros." (II João 1:5).
O apóstolo Paulo também refere-se a
este ensino: "(...) não adulterarás, não matarás, não furtarás, não
cobiçarás, e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: amarás o teu
próximo como a ti mesmo. O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte
que ocumprimento da lei é o amor." (Romanos 13:9-10). Nota-se ainda
que Paulo exemplifica este assunto citando exclusivamente os mandamentos do
Decálogo, os quais além de estarem fundamentados no princípio do amor, são a
base da lei mosaica(g). O amor a Deus
sempre estará sintetizado na obediência aos quatro primeiros mandamentos do
Decálogo, assim como o amar ao próximo desenvolverá o respeito pelos seis
últimos.
Considerações Finais
A Bíblia revela claramente a
existência do Decálogo (lei de Deus) antes da criação do homem e,
consequentemente, antes de Moisés. Ela foi estabelecida na Terra para toda a
humanidade (Eclesiastes 12:13 cf Mateus 19:17-19). Os descendentes de Abraão, quando foram convocados por Deus para
levarem Seus ensinos as demais nações (Êxodo 19:5-6; Isaías 51:4; Romanos 3:2), já tinham o
conhecimento dessa lei antes dela ser entregue na sua forma escrita no Monte
Sinai.
Deus não é um Criador e Governador de
improviso, que realiza Seus propósitos sem planejamento e desígnio. Ele não
elabora regras conforme o surgimento dos acontecimentos ou das circunstâncias.
E tais afirmativas são confirmadas pelas seguintes declarações: "Eis o
Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!", "(...) Cordeiro que
foi morto desde a fundação do mundo" (João 1:29; Apocalipse 13:8). Esse sacrifício
único e derradeiro foi justamente pelos pecados do homem; pecados que segundo
os ensinos escriturísticos são ocasionados pela desobediência aos princípios do
Decálogo.4
O plano de salvação foi
minuciosamente articulado antes da criação. Deus tinha conhecimento das
transgressões que o homem causaria a Sua lei influenciado por Satanás (Apocalipse 12:17). O "fruto" de
uma árvore, obviamente, não foi a causa do grande conflito em que a humanidade
se envolveu. As implicações registradas em Gênesis capítulo 3 vão muito além disso.